segunda-feira, 7 de março de 2011

Relato de experiência - Olimpíada 2010

Olimpíada de Língua Portuguesa – 2010

Relato de experiência - Refazendo o caminho

Sou professora efetiva na rede municipal de ensino, há 11 anos, na cidade de Campinápolis-MT. Graduada em Ciências Biológicas, pós-graduada em Linguística e alfabetização e concluo, no final deste ano, uma especialização em Tecnologia na Educação. Contudo, o que eu gosto mesmo de lecionar é a disciplina de Língua Portuguesa. Ela nos dá oportunidade de ajudar muito os nossos alunos. Algumas vezes faltam professores desta disciplina na minha escola e sempre que possível, leciono essas aulas.

A situação em que está a qualidade de produção de textos de nossos alunos deixa-me preocupada e, como professora, sinto-me responsável por este descaminho também. A cada dia que passam vejo que eles demonstram menos habilidade nesta prática escolar.

Em 2008 conheci e acompanhei o primeiro trabalho da Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP) na escola onde trabalho. Na época, era coordenadora de ensino e apenas coordenei o trabalho dos professores em sala de aula. Este ano de 2010 foi diferente, tive a oportunidade de por a “mão na massa”. Sou a professora de Língua portuguesa nas turmas de 5ª a 7ª série do Ensino Fundamental e pela primeira vez, experimentei o trabalho por meio de sequências didáticas.

Devido às turmas que estava lecionando, pude trabalhar com dois gêneros sugeridos pelo projeto: Poesias ( 5ª série) e memórias literárias( 6ª e 7ª série).

Confesso que no início tive muito receio. O “novo” deixa a gente meio assustada. A minha maior preocupação no momento era com os conteúdos que ficariam atrasados. Fomos orientados a parar com o planejamento anual e trabalhar apenas com a O.L.P.

Dei início ao trabalho com os gêneros textuais no início do 2º bimestre deste ano. À medida que fomos desenvolvendo as oficinas, fui tomando gosto pela olimpíada porque via os alunos participarem de uma forma que me surpreendeu. Realmente não esperava que tivessem um desempenho tão positivo.

1. Poesias

Realizado em duas turmas de 5ª série, resultou em uma coletânea contendo uma produção de cada aluno, o qual se responsabilizou pela ilustração de seu próprio texto.

Para dar conta de todas as etapas da sequência didática do projeto tive que fazer algumas adaptações: Usei como ponto de apoio para reforçar as oficinas, as poesias de Cecília Meireles. Primeiro pesquisamos poemas e poesia em material disponível na biblioteca da escola e cada aluno trouxe de casa um exemplar também. Montamos o mural de poemas na sala de aula e toda vez que trabalhava uma característica desse gênero, recorríamos aos poemas disponíveis no mural, e claro, reforçando sempre com Cecília Meireles. Desta forma desenvolvemos todo o trabalho com auxílio deste mural.

Como o tema da O.L.P. é “O lugar onde vivo”, pedi ajuda ao professor de geografia das turmas, que colaborasse com dados geográficos sobre o município, bem como relevo, economia, população, clima, localização, etc.

A partir da colaboração do professor de geografia produzimos acrósticos com o nome do município, nome da escola, o nome do bairro ou da aldeia (já que temos alguns alunos indígenas na nossa escola), ou seja, cada um direcionou as informações para o lugar onde mora. O que eles produziam, eu recolhia, fazia a correção e devolvia com algumas sugestões para melhoria do seu texto. Com os acrósticos, fizemos uma exposição no mural da escola.

Quando percebi que já podíamos partir para a produção final, elaboramos um roteiro para que os alunos pudessem delimitar o assunto sobre o qual ia escrever o seu poema.

Neste roteiro, o aluno deveria observar e anotar informações sobre o lugar que gostaria de descrever em seu texto como localização, cheiros, cores, movimentos, sensações, etc. Tudo que ele percebesse naquele local.

Em seguida, em sala de aula, os alunos transformaram estas informações em poemas.

Trabalhando desta forma, tive a oportunidade de acompanhar individualmente cada um dos alunos e perceber assim a dificuldade particular de cada um deles.

O que mais me surpreendeu com todo este trabalho foi o fato de alguns alunos que demonstraram, aparentemente, dificuldade em produção de textos, apresentaram poemas muito bons no final das oficinas. Com os poemas das duas turmas, organizei uma coletânea intitulada “POEMAS - O lugar onde vivo”.

Depois de concluir as oficinas, cada aluno recitou o seu poema durante o recreio para toda a comunidade escolar. Com isso, eles se sentiram valorizados e os demais alunos da nossa escola puderam conhecer o produto final de um trabalho tão gratificante.



2. Memórias literárias

Nas turmas de 6ª e 7ª série realizei todas as oficinas sugeridas pela sequência do material. Os primeiros relatos sobre suas memórias de infância os alunos fizeram oralmente. Nas etapas seguintes começaram a escrever sobre brincadeiras preferidas, lugares marcantes onde, de alguma forma, eles tiveram experiências que ficaram registradas na memória. Em seguida passamos a relatar memórias de pessoas da comunidade.

Para esta etapa da olimpíada, trouxe duas pessoas pioneiras da cidade para ser entrevistados pelos alunos, na sala de aula. Antes elaboramos o roteiro, conforme orienta a oficina número 11. Foi um sucesso a entrevista. Os alunos se empolgaram, porque estas pessoas trouxeram informações sobre a origem do município, as dificuldades, a forma de relacionamento entre as pessoas e as festas daquela época. Tudo sobre a cidade de Campinápolis, o lugar onde moram.

Com base nos dados da entrevista os alunos elaboraram um texto de memória. Fiquei muito feliz com o resultado. Até os alunos que apresentavam grande dificuldade nas produções textuais, conseguiram participar satisfatoriamente das oficinas.

Durante o trabalho com memórias literárias, percebi que poderia usar este recurso para aproximar os alunos aos seus familiares. Acho que nos dias atuais as famílias estão se distanciando muito uns dos outros, principalmente os adolescentes. Esta seria uma oportunidade de saber algo sobre alguém da família. Uma aproximação para reforçar os laços familiares. A partir daí parti para a segunda etapa do trabalho que foi elaborar um texto de memória a partir de uma entrevista com um membro da família: pai, mãe, avô ou avó. Elaboramos o roteiro da entrevista, juntos, em sala de aula. Os alunos levaram a tarefa e realizaram em casa. Produziram o texto com as memórias do entrevistado e trouxeram na aula seguinte. Não poderia ter sido melhor!

Os alunos, de forma geral, ficaram muito empolgados com a realização desta atividade, pois, segundo eles, não tinham nem ideia de tantas histórias que ouviram de seus familiares. Outros disseram que há muito tempo não tinha tido uma conversa tão bacana com seus pais. Alguns deles, no final, pediram para fazer mais vezes este tipo de trabalho.

Recolhi os textos, fiz as correções necessárias e devolvi aos alunos com algumas sugestões para aprimoramento. Em seguida recolhi os textos aprimorados e pedi ajuda de uma funcionária da escola para digitá-los.Logo em seguida, cada aluno fez a ilustração do seu próprio texto. Com eles, organizamos uma coletânea intitulada “Lembrar e coçar é só Começar”.

Trabalhar com sequência didática foi uma experiência positiva que quero continuar aplicando nas minhas aulas. Ela me fez perceber que um dos fatores que pode ter levado a esta defasagem nas produções textuais dos alunos seja a forma que vem sendo ensinado nas escolas.

Desta forma posso afirmar que, se antes de pedirmos uma produção de texto aos alunos, nós os ensinarmos a fazer, o resultado será muito mais proveitoso e significativo.

Professora Maria Dias dos Santos

Email: diasbauer@hotmail.com

Escola Municipal Anastácio Feliciano Alves

Campinápolis, Mato Grosso

Novembro/2010

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